A dúvida sobre a escolha do tipo de parto aparece, muitas vezes, antes mesmo de a mulher ficar grávida. A decisão deve ser conjunta, entre a mulher e o obstetra, e, por isso, vale expor suas angústias e desejos para chegar à melhor opção. Cada parto, uma história. Por isso, ela tem de se basear principalmente no seu estado de saúde, não só nas suas crenças e tradições familiares. Buscar informação com amigas que já têm filhos, em sites, revistas ou livros especializados ajuda a organizar as ideias e eleger o parto que se encaixa melhor na sua realidade.
Renato Kalil, obstetra e especialista em reprodução humana, fala sobre os diferentes procedimentos. A partir daí, vai ficar bem mais fácil escolher o ideal para você e seu filho.
Quais as vantagens e desvantagens do parto normal?
Renato Kalil: A vantagem é a que o nome já diz: o parto é normal, a criança nasce por via normal, sem ninguém interferir. A compressão que o tórax da criança sofre ao passar pelo canal de parto ajuda a eliminar o líquido amniótico. A ligação mãe e filho é maior, porque o trabalho dela é ativo, participando do nascimento.
Além disso, apenas 3% das crianças nascidas dessa forma passam pela UTI neonatal por conta de desconforto respiratório transitório.
A desvantagem é que se o trabalho for muito longo, a criança pode nascer cansada, com a escala de Apgar – que é a “nota” do nascimento – muito baixa.
Já para a mãe, o ponto negativo é que ele pode levar a rutura de períneo e piorar o quadro hemorroidário.
Quais as vantagens e desvantagens da cesariana?
Kalil: A cesárea é uma cirurgia e, como tal, tem indicações para ser realizada. A vantagem é que, por isso mesmo, é um procedimento rápido e com hora marcada. Em uma intercorrência de parto normal, é a melhor indicação.
As contrapartidas são os riscos inerentes a uma cirurgia: abertura da cicatriz, infecção e hemorragia.
Além disso, a chance de gravidez ectópica – aquela em que o embrião é fixado na tuba uterina –¬ futura é maior.
Como saber qual é o melhor parto para a gestante?
Kalil: Se a mulher tem hipertensão, problemas ósseos na pélvis ou nos rins, a cesárea aparece como a melhor opção. De qualquer forma, o ideal é que, mesmo nesse caso, ela entre em trabalho de parto, com dilatação e contração.
Se a grávida tem pré-eclâmpsia ou está com a pressão alta fora de controle, primeiro o médico compensa a patologia e só depois faz o parto. A menos que haja sofrimento fetal, é feito o parto pela via mais rápida. Se o médico precisa acelerar o parto por conta de qualquer problema e já está dilatada, a equipe faz o parto normal. Se não, realiza cesariana.
A mulher tem de fazer algum exame antes para decidir qual será o tipo de parto?
Kalil: Ela deve fazer um exame ginecológico, para avaliar o colo uterino. Ou seja, se está colo grosso ou se já está se preparando para o nascimento. Os exames vão avaliar também a posição do bebê: se ele está alto, encaixado, sentado ou transverso, e também se existe desproporção cefalo-pélvica, ou seja, se a cabeça da criança é muito grande para passar pela pélvis da mãe.
Agora, tudo isso tem de ser feito levando em conta também o período da gestação. É preciso esperar 40 semanas. Até lá, a posição do bebê pode mudar. E mesmo um pouco depois disso. Por essa razão, é importante analisar as condições fetais enquanto se espera para fazer o parto.
Em qual situação a recuperação é mais rápida?
Kalil: No parto normal, em três dias a mulher já está “nova”. Na cesárea, em 15 dias tem uma recuperação boa. Em 30 a 40 dias, os tecidos estarão cicatrizados e ela está liberada para fazer as atividades cotidianas. Mas a cicatrização completa ocorre apenas em seis meses.
A mulher cujo primeiro filho nasceu de cesariana pode ter um segundo filho com parto normal? Há algum cuidado adicional?
Kalil: Sim, é possível ter o segundo filho de parto normal depois de uma cesárea. O cuidado a ser tomado é com a rutura uterina. Por conta da força que a mulher faz para expulsar o bebê, o útero pode se romper no lugar da cicatriz da cesárea. A chance de isso acontecer é de 12%. A única maneira de evitar é realizar uma cesárea antes que isso aconteça. Existem algumas evidências que preveem a rutura uterina: a grávida pode sentir dor na perna, por exemplo, mesmo analgesiada. Ou ainda, a incidência do anel de Bandl, uma retração um pouco acima da cicatriz anterior, que também indica risco de rutura.
O que é a cesárea minimamente invasiva? Qual a diferença ante a cesariana tradicional?
Kalil: Na cesárea tradicional, as sete camadas que separam o bebê do ambiente são cortadas. Na minimamente invasiva, em vez de cortar, o médico divulsiona os tecidos. Isto é, ele abre as camadas com a mão, seguindo o sentido das fibras. A lesão dos tecidos é menor, mas o tempo de cicatrização é o mesmo. Isso porque o médico tem que dar pontos nos tecidos para fechá-los.
Quais os tipos de anestesia para o parto?
Kalil: Para cesariana existe a anestesia geral e raqui ou peridural. Para parto normal, não é usada anestesia, mas analgesia, que são peridural contínua ou a analgesia combinada, também chamada de duplo bloqueio, que é a mais comum. Ela combina a ação da peridural contínua com a raqui. Esse tipo de analgesia tira a dor, mas não sensibilidade.
Existem diferentes graus de sensibilidade que podem ser experimentados durante o trabalho de parto. Eles dependem da medicação escolhida, da quantidade utilizada e do grau de sensibilidade da mulher.
Parto normal requer anestesia?
Kalil: Não, a mãe é quem decide.
Qual a vantagem e qual a eventual desvantagem da episiotomia, corte feito no períneo com o intuito de ajudar a passagem do bebê pela vagina?
Kalil: Vantagens da episiotomia: todas. Se você não corta o períneo, a própria cabeça da criança pode abrir uma fenda na região ao sair. O corte é feito de forma irregular e pode se estender até o ânus e o canal retal, o que torna mais difícil para consertar, além de provocar risco de infecção. Quando a mulher faz a episiotomia, amplia o canal de parto e a criança sofre menos para sair. A desvantagem é a dor causada pela sutura dos pontos.
Fonte:
Gineco