Uma polêmica sobre a conduta na ruptura prematura da bolsa das águas Como proceder quando a bolsa se rompe antes do trabalho de parto ter iniciado?
A grande dúvida surge, pois, quando há perda de líquido, tanto a mãe quanto o feto ficam expostos a alguns riscos. Entre eles destaco o risco de infecção fetal e materna. Quanto tempo o organismo leva para o desenvolvimento de uma infecção após a ruptura é algo variável entre as gestantes e também depende de alguns fatores externos, como a quantidade de toques realizados durante o trabalho de parto. Por isso, os estudos científicos mostram resultados controversos.
Dependendo da idade gestacional em que a ruptura aconteça a conduta pode ser bastante distinta.
Antes de 24 ou 26 semanas de gestação a conduta é praticamente unânime entre os estudiosos, pois o feto é inviável para a vida extra uterina e portanto costuma-se interromper a gestação.
Entre 24 e 34 semanas costuma-se ter conduta expectante com monitorização para detectar sinais precoces de infecção ou sofrimento fetal e se houver algum sinal negativo a gestação deverá ser interrompida.
Após 34 semanas de gestação a conduta é a resolução da gestação. Existem, porém, alguns questionamentos à respeito da conduta a ser tomada e temos diferentes respostas nos trabalhos científicos:
• Quanto tempo pode-se esperar entre a ruptura da bolsa e o nascimento do bebê?
• Devemos induzir o parto logo que tiver o diagnóstico de bolsa rota?
• Se formos induzir, qual é a melhor droga a ser utilizada?
• Devemos usar antibióticos profiláticos e qual seria o melhor momento de iniciar seu uso?
Estas perguntas deixam dúvidas para o obstetra mais cuidadoso que não deseja realizar intempestivamente uma cesariana. Em alguns pontos existem unanimidades nos trabalhos científicos. Grande parte dos autores observou que a maioria das gestantes, a termo (37 semanas ou mais de gestação) entram em trabalho de parto espontaneamente nas primeiras 8 horas após a ruptura da bolsa. Eles observaram que a incidência de infecção no neonato só aumenta após 24 horas de bolsa rota. Com isso estaremos seguras dentro das primeiras 24 horas aguardando o nascimento do bebê.
O melhor momento para iniciar a indução de parto é outra controvérsia. Como não existe unanimidade, cada obstetra adota a conduta com a qual tiver melhor experiência. Alguns profissionais, se a bolsa romper à noite, costumam esperar até a manhã seguinte para iniciar uma indução com drogas, isso se a gestante não tiver entrado em trabalho de parto espontaneamente. Se a bolsa se rompe pela manhã, podem esperar umas 6 horas para iniciar a indução com drogas. Se a gestante não tiver contrações até o final do dia, é possível retirar a indução, aguardar mais uma noite, e, se a paciente durante esta noite não evoluir para trabalho de parto, na manhã seguinte avaliar a gestante e bebê e se o colo permanecer desfavorável talvez realizar uma cesariana. Um recurso interessante nesses casos é a estimulação com acupuntura que pode ser realizada em todas as gestantes assim que é diagnosticada uma bolsa rota. No geral, a maioria das gestantes entra em trabalho de parto espontaneamente nas primeiras 6 a 8 horas. Na verdade, o mais importante é não ter regra fixa e avaliar cada caso para saber qual é a melhor conduta quando se tem uma bolsa rota.
O uso de antibióticos profiláticos parece não ter efeito em diminuir a incidência de infecção no bebê. Quando a gestante tem um diagnóstico prévio da presença de estreptococos do grupo B na secreção vaginal, o uso do antibiótico parece diminuir a infecção do neonato.
A gestante com bolsa rota se possível não deve ser tocada, pois o toque eleva acentuadamente a incidência de infecção no neonato.
Para esperar ou induzir um trabalho de parto é sempre necessário avaliar o bem estar fetal na nova situação. Esta avaliação pode ser feita simplesmente escutando os batimentos cardíacos fetais através do sonar ou de um registro gráfico como a cardiotocografia.
Como saber que a bolsa rompeu?
Quando há eliminação de grande quantidade de água via vaginal que molha a roupa e escorre pelas pernas com odor semelhante a água sanitária ou ao ejaculo do homem. Este tipo de ruptura não gera dúvidas para ninguém, porém, quando a ruptura é parcial o líquido pode sair em pequena quantidade podendo ser confundido com um corrimento ou urina. Quando houver uma eliminação deste tipo é importante que a gestante cheire a secreção para tentar diferenciá-la e coloque outra roupa íntima limpa, seca e clara para poder observar se a eliminação irá se repetir, se isto acontecer deverá analisar todas as características da secreção. Sempre que houver dúvida o profissional deve ser avisado para elucidar o caso através de exames da secreção vaginal e da própria aparência da vagina.